Andar sempre parecia perigoso. Havia muitas pedras no caminho. As paisagens, lindas por sinal, tentavam distrair sua atenção, mas ele estava resoluto. Não cederia à beleza do sol, ao cantar dos pássaros, às flores que brilhavam à margem da estrada e aos desvios que convidavam para o inesperado.
Já tinha decidido o seu rumo. Seu destino já estava traçado. Tinha fé nas promessas que ouvira desde a infância e estava convicto de que estava na direção certa. Ao longo da caminhada procurava atrair outros para si e convencê-los a juntarem-se a ele. A maioria não o seguia, embora alguns cedessem à sua persuasão. Todos o ouviam com atenção e até caminhavam por alguns metros com ele mas logo se distraiam. Crianças à beira da estrada sorriam, chamavam pelo seu nome como que convidando-o à diversão. Mas ele desviava o olhar.
Depois de tanto caminhar, parou um minuto para descansar. Estava exausto e o suor fez com que sua camiseta grudasse no corpo, causando incômodo e náusea. Estava com sede. Seu cantil se esvaziara e a comida que trazia na mochila tinha se estragado.
Não muito distante observou um pequeno riacho. A água parecia límpida e fresca. A luz do sol produzia reflexos que cintilavam com o mover da correnteza. Hesitante, ousou sair do caminho e ir em direção ao riacho. Encheu o cantil e bebeu vagarosamente, procurando saborear cada gota que descia para o seu corpo. Bebeu uma vez, duas, três... até que sentiu-se saciado.
Repentinamente ouviu vozes infantis. Logo, crianças o rodearam, de mãos dadas, cantando uma canção que ele achava já ter ouvido quando era pequeno. Um cãozinho pulou para ele como que chamando-o para brincar. Acariciou o animal e, para sua surpresa, sentiu-se muito bem. Uma mão no seu ombro o fez voltar-se para trás. O homem que sorriu para ele era muito parecido com alguém do seu passado mas não conseguiu lembrar-se quem era. Apoiando-se no seu ombro, o indivíduo, que mancava de uma perna, caminhou com ele em direção a algumas árvores e começou a contar-lhe uma história. A história parecia familiar mas não tinha certeza se já a tinha realmente ouvido alguma vez.
Aos poucos outros se juntaram a eles e de repente tudo parecia uma festa. Alguns dançavam e falavam com ele como se já o conhecessem há muito tempo e como se sempre tivessem convivido juntos.
Quando veio a noite todos se recolheram e ele ficou só, à beira do riacho. Ali, sob a luz da lua e ao som do canto de uma coruja, sentiu solidão. Preocupado, lembrou-se do caminho. Vagarosamente pôs-se a caminhar em direção à pequena estradinha onde, de longe, viu alguns. Quando se aproximou, ninguém pareceu notar sua presença. Uns poucos sussurraram seu nome, chamando-o para se juntar a eles.
Parou a uma certa distância. Sentou-se calmamente na grama. Um misto de ansiedade e alegria reprimida o dominava. Resolveu ficar ali mesmo. Não sabia o que a manhã lhe traria mas parecia não querer ter certeza de mais nada.